Durante a quaresma nós somos convidados a rezar a via-sacra, ou seja, o caminho desde a condenação até a crucificação e morte de Jesus Cristo. As quinze estações da via-sacra, representadas por quadros de gravuras ou simples numeração, indicam momentos particulares deste caminho doloroso. Escolhi para a nossa reflexão um momento particular da via-sacra: Jesus se encontra com sua mãe.
Maria vê Jesus passar, sentenciado à morte e levando em seus ombros uma cruz pesada que o fizera cair, rodeado por soldados e por algumas pessoas conhecidas. Apenas podemos saber disso nesta cena que é a quarta estação da via-sacra. A Mãe encontra o Bendito fruto do seu ventre. Jamais pensara em ver seu Filho naquela situação, ensanguentado pelos açoites, em volta de sua cabeça uma coroa de espinhos, em seus olhar a vergonha de estar exposto como um malfeitor, o que jamais merecera.
Os olhares se cruzam. Mãe e Filho. Eles se conheciam. Sabiam da verdade, da injustiça, da dor. Os dois doloridos: no corpo e na alma. A dor do Filho, a dor da Mãe. Qual a mãe que não se compadece do sofrimento do seu filho? Ainda mais quando sabe que é um sofrimento injusto!
Meditando este encontro, me veio à mente a imagem de Maria sentindo um misto de dor e de impotência diante do sofrimento do Filho. Ela sabe da dor e do estado emocional de Jesus. Eu a contemplo desejando ajudá-lo de alguma forma, tentando impedir que se procedesse aquela sentença, afinal, ela sabia que seu Filho nada fizera para merecê-la. O sentimento de não poder fazer nada pelo Filho, no momento que ele mais necessitava penetrou profundamente no coração daquela Mãe que, mesmo passando isso em seus pensamentos, daquele momento em diante estaria sozinha, viúva e sem filhos para ampará-la. A Mãe vê o Filho sendo levado para ser crucificado: era o fim daquele que tanto bem fizera e que semeou tantas sementes de verdade. Quantas boas obras ele fizera e como é possível que tudo termine assim? Maria compreendeu que o seu Filho sofria por ver que a sua missão talvez tenha fracassado.
Os católicos que rezam com piedade e compenetração as estações da via-sacra param diante deste encontro. Não há quem não se contriste ao imaginar os olhares de Jesus e de Maria se cruzando naquele momento. Olhares que se fitam e se interpelam. Mesmo numa fração de segundos, o gesto penetrou o mais íntimo daquelas almas. Uma unidade inexplicável; uma comunhão na dor, na decepção, na vergonha, no silêncio dos que confiam e esperam em Deus.
Meditando esta quarta estação, compreendi que as dores daquela Mãe foram maiores do que podemos imaginar e que foram intimamente associadas às dores de Jesus; nele encontrou sentido, alívio e ressurreição. A caminho da quaresma nos convida a essa mesma experiência: passar da indignação, da dor, do pecado, para a ressurreição, que nos espera, conquistada com alto preço.
por Pe. Severino Isaías Lima, sjc